Marcelo Duarte Lins
Platão nos deixou um aviso que
atravessa séculos: não é a vela enfunada que faz andar o barco, mas o vento que
não se vê. É uma metáfora simples e profunda. A vida, afinal, não se move pelo
espetáculo das aparências, mas pelas forças silenciosas que nos animam: o
desejo, a fé, o sonho que insiste em existir mesmo quando tudo parece desabar.
Diante das dificuldades,
muitos param, como se o obstáculo fosse o fim do caminho. Mas o que sustenta a
travessia não é a ausência de pedras, e sim a presença de sonhos. É o que toca
a alma que, em última instância, indica a direção.
O risco é ignorar essa bússola
interior e ceder à tentação das maiorias. O erro, ainda que vestido de
consenso, não se converte em verdade. O certo permanece certo mesmo quando
caminha só; o errado continua errado ainda que receba aplausos de todos os lados.
Por isso, talvez a tarefa mais difícil seja manter o equilíbrio. Nem se deixar inflar pelos elogios, nem sucumbir às críticas. O que protege de ambos é o autoconhecimento — essa forma de serenidade que nos impede de oscilar ao sabor das marés externas.