A pergunta é simples: no caso do eterno conflito israelo-palestiniano, por que motivo defende a esquerda LGBT ocidental, ainda que de forma indireta ou envergonhada, grupos terroristas islâmicos como o Hamas, e manifesta o que parece ser um ódio sistemático e recorrente a Israel e aos judeus?
João Maurício Brás
Uma perplexidade comum e
legítima de um ocidental atento refere-se à atitude dos ativismos LGBT,
especialmente os de esquerda, e à sua condenação de muitos aspetos das
democracias ocidentais sempre que não se alinhem com os seus pressupostos
ideológicos, ao mesmo tempo que demonstram aceitação, quando não simpatia
ativa, por aspetos do islamismo que rejeitam frontalmente quer a
homossexualidade, quer a igualdade plena entre homens e mulheres, crentes e não
crentes.
A pergunta é simples: no caso
do eterno conflito israelo-palestiniano, por que motivo defende a esquerda LGBT
ocidental, ainda que de forma indireta ou envergonhada, grupos terroristas
islâmicos como o Hamas, e manifesta o que parece ser um ódio sistemático e
recorrente a Israel e aos judeus? Quanto tempo sobreviveria, de forma assumida
e livre, um homossexual sob o regime que controla Gaza? Qual é o estatuto
jurídico, social e simbólico das mulheres nesse território? Qual é a legislação
vigente sobre a homossexualidade em Gaza? E, mais amplamente, quantos países
islâmicos consideram a homossexualidade um crime grave, em muitos casos punível
com a morte? Será ou não verdade que, em múltiplos regimes muçulmanos, a
liberdade da mulher em vestir-se como deseja, usar o penteado que quiser ou
exercer qualquer profissão sem autorização masculina continua a ser negada?
Refira-se que até a Autoridade
Palestinana pede a rendição do Hamas, e não se percebe como de modo ainda que
indireto países e organizações ocidentais apoiam um grupo terrorista que usa o
território de Gaza e mantem um povo sequestrado.
Em 2025, quantas manifestações
organizadas pela esquerda portuguesa houve contra Israel, em nome da Palestina,
da “resistência” ou do “antissionismo”? E quantas foram organizadas pelas
mesmas forças em defesa das mulheres iranianas, dos homossexuais afegãos, dos
cristãos perseguidos em países islâmicos ou das minorias religiosas na Nigéria
e no Paquistão?
É possível, mesmo cedendo ao relativismo cultural, admitir que cada sociedade tem os seus costumes e códigos internos. Mas pensar é um dever. Perguntar é um direito. E, nesse direito, cabe uma indagação séria: por que razão certos movimentos políticos e os seus ativismos, quase sempre ligados à esquerda radical ocidental, demonstram uma tolerância complacente e acrítica face a regimes e ideologias que violam flagrantemente os direitos e valores que os próprios dizem defender no Ocidente?